Procurarei trazer algumas questões sobre como ensinar e aprender de forma inovadora, com novas tecnologias, principalmente com a Internet.
A minha preocupação está em como unir todas as questões humanísticas de comunicação interpessoal, de troca entre professores, docentes, alunos, com tecnologias.
Em primeiro lugar, vou apresentar algumas questões gerais. Estão acontecendo mudanças tão profundas na sociedade, que elas afetam também a educação. Nunca tivemos tantas mudanças em todos os campos – na medicina, nas ciências, no comportamento, e também na educação. Ela está sofrendo processos sérios de gerenciamento, de avanço do particular e reorganização do público. Está havendo pressão pela educação contínua, pela educação a distância. Isso nos obriga a repensar os modelos pedagógicos que nós temos, aqueles modelos centrados no professor, que começam a mudar, a ser mais participativos. Hoje, começam a se aproximar metodologias, programas, tecnologias e gerenciamento, tanto dos cursos presenciais como dos cursos a distância ou virtuais. Aos poucos a educação vai-se tornando uma mistura de cursos, de sala de aula física e também de intercâmbio virtual. Há um processo de aproximação. Daqui a cinco anos, aproximadamente, falar de educação a distância e de educação presencial, não vai ter tanto sentido. Em alguns cursos, predominará o presencial, em outros o virtual, mas tudo será híbrido nesses próximos anos e será possível com facilidade fazer cursos em vários lugares, tanto aqui, na USP, na PUC ou na UFRGS em Porto Alegre. Há uma série de iniciativas promissoras. Estão surgindo consórcios de Educação a distância, públicos como a UNIREDE e particulares, como a UVB – Universidade Virtual Brasileira. Uma série de propostas novas estão surgindo. Isso nos obriga a redimensionar, a reorganizar o conceito de aula presencial.
Está mudando o conceito de aula. Vou lhes dar um pequeno exemplo pessoal. No ano passado, no fim do primeiro semestre, tive que ir à Espanha por causa do falecimento do meu pai. Uma morte repentina apesar da idade dele. Estava faltando quase um mês para terminar os meus cursos, dois de graduação e um de pós-graduação. Então, eu disse que iria à Espanha e tentaríamos encaminhar as atividades programadas para a última etapa. Todos os alunos estavam conectados através de e-mail, tínhamos as e onde nos falávamos, trocávamos materiais. Ao mesmo tempo em que estava com a minha família, entrava todo dia no computador do meu irmão, numa cidade pequena no noroeste da Espanha, Vigo, perto de Santiago de Compostela com uns 350.000 habitantes. Entrava em contato com a página da USP, lia as mensagens dos alunos, enviava respostas, propunha algumas atividades para cada grupo, para continuar pesquisando. Recebi os trabalhos, avaliei-os e enviei as notas para a secretaria. Enquanto estava com a minha família, também desenvolvia atividades acadêmicas que permitiam ampliar o conceito de aula presencial. Estávamos ensinando e aprendendo de uma outra forma. A dez mil quilômetros, eu tive a clara percepção de que o meu papel se modificava, ampliava. Era um professor em contato, gerenciador de processos, não o informante, o que “dá aula”, mas o que “gerenciava atividades a distância”.O conceito de aula muda porque, mesmo distante, o processo de aprendizagem pode acontecer. À medida que essas tecnologias vão-se tornando mais e mais rápidas, além de escrever coisas e ler mensagens, poderemos ver os alunos, eles verão o professor, a um custo relativamente barato. Então, isto vai modificar profundamente todo o conceito que nós temos de aula e o nosso papel professor e aluno. Pergunto-me: Quando vale a pena irmos juntos a uma sala de aula e para fazer o quê? Como é que eu vou dar aula para o aluno que está em casa e me vê? Como vai ser este tipo de aula? Que tipo de atividades eu vou desenvolver? São essas as questões que estou apresentando. Para falar dos cursos mais avançados, existe o conceito que nós chamamos de banda larga de transmissão em tempo real. Em São Paulo há o Virtual da Net, o @jato da TVA, o Speed da Telefônica. Permitem que haja um acesso maior de velocidade. Uma pessoa coloca uma câmera pequena, a outra coloca também uma câmera, e as pessoas se vêem, se falam. Posso uma aula dar em uma tela de computador ou num telão. Aparece a minha imagem, ao lado aparece o resumo do que eu estou falando, o aluno pode utilizar um chat e fazer um comentário ou pergunta, e eu administro o ritmo da aula, quando responder, a quem autorizar a falar, etc. Basta ter só um pouquinho mais de velocidade e isto já começa a ser possível. Como a velocidade está chegando, daqui a um ou dois anos, no máximo, nas Universidades vai estar implantada a banda larga para alguns cursos de especialização, de pós-graduação e algumas disciplinas da graduação.
Nós temos que pensar sobre como dar aula. É desafiador. Não é um modismo, não é algo voluntário e só alguns professores fanáticos irão fazer. Cada um de nós vai, de alguma forma, confrontar-se com essa necessidade de reorganizar o processo de ensinar. Não será tudo a distância, sem contato físico. Nós precisamos do contato, do encontro. Ele é e será sempre superior ao que nós fizermos através de uma câmera. Mas será muito mais cômodo. Você se conecta, eu posso estar na minha sala, em São Paulo e conectado com uma série de alunos em Pelotas, por exemplo. Podemos marcar um horário para orientação individual ou grupal, para tirar dúvidas, para desenvolver uma pesquisa. Evitamos todo esse deslocamento atual. Depois que você está presente (depois da viagem...) vale muito mais a pena, pela intensidade da troca, estarmos juntos. Mas a comunicação virtual será muito mais econômica e cômoda para todos. A relação custo x benefício vai fazer com que todos tenham que repensar esse processo. Hoje, muitas faculdades estão sendo abertas em cidades menores. Há uma proliferação de cursos superiores. Se eles não forem bons, daqui a pouco tempo, será possível escolher fazê-lo localmente ou a distância, em universidades de ponta, comodamente.
Hoje muita gente faz faculdade aqui porque fica perto, porque não tem outra opção, porque é caro ir para uma cidade grande. Teremos grandes centros com alguns núcleos de apoio locais, onde o importante é a grande universidade, onde você tem os grandes professores, grupos de pesquisa e know-how gerencial. Não quero assustá-los, mas as mudanças serão muito significativas. O papel do professor no nível superior também está se modificando bastante. Na escola, na pré-escola, a inserção em ambientes virtuais serão feitas com muito mais cuidado, vai ser muito mais difícil, no sentido de se ter mais cuidado. A criança tem que aprender a conviver, a estar com os outros, a socializar-se. Então, o foco da educação a distância não será para alunos pequenos. A pré-escola vai incorporar alguns momentos em que os alunos navegarão na Internet, verão outras crianças em outras escolas, conversarão, mas, em geral, eles estarão fisicamente juntos, aprendendo a conviver. Na educação superior e contínua de adultos, a flexibilidade de propostas pedagógicas e tecnológicas será muito mais abrangente.
Realmente,em uma sociedade em constante desenvolvimento, se não mudar a forma de aprender e ensinar, a educação voltará a estaca zero.
ResponderExcluirAdorei o texto.....
ResponderExcluirMuito bom esse texto, a educação é um processo lento e dinâmico por isso deve ser feito com responsabilidade e inovação...
ResponderExcluirO texto acima foi muito bem escolhido ,realmente Moran é demais!
ResponderExcluir